sexta-feira, 8 de abril de 2011

MASSACRE DA ESCOLA DO RIO - Família está indignada por não conseguir doar órgãos de vítima em Realengo

POR FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - A família de Igor Moraes da Silva, de 13 anos, um dos alunos mortos no massacre ocorrido nesta quinta-feira, na Escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste da Cidade, está indignada por não conseguir doar os órgãos do menino. Segundo a mãe da criança, o processo burocrático pede a assinatura do pai de Igor, José da Silva, que desapareceu e não mantém nenhum tipo de contato com a família.

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Foto: Álbum de família
Foto: Álbum de família

Inês e o irmão mais novo de Igor, Eduardo Moraes da Silva, de 11 anos, chegaram por volta de 15h no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste, para acompanhar o enterro da vítima do atentado. Eduardo, que chegou com rosas na mão para jogar no caixão, dizia estar muito triste e aparentava estar bastante abatido.

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Eduardo é aluno da 5ª série do mesmo colégio que o irmão, na sala 7, que fica ao lado da sala 5, onde Igor estava quando foi assassinado. Segundo Eduardo, a sua turma ficou trancada na sala de aula no momento do tiroteio, ouvindo os tiros vindos do local onde o irmão estava.

Segundo colegas da vítima, que acompanharam o velório ao lado da família, Igor era bastante ativo, apaixonado pelo Flamengo e seu sonho era ser jogador de futebol.

Tristeza e dor no sepultamento das vítimas

Aproximadamente 2 mil pessoas compareceram ao Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio, para acompanhar o sepultamento de quatro crianças vítimas do ataque a tiros à Escola Tasso da Silveira, em Realengo. Por causa da comoção e do forte calor, 50 pessoas precisaram de atendimento médico durante as cerimônias de sepultamento de Larissa dos Santos Atanázio (13 anos), Luisa Paula da Silveira Machado (14 anos), Rafael Pereira da Silva (14 anos) e Karine Lorraine Chagas (14 anos).

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O prefeito do Rio, Eduardo Paes, compareceu ao velório e percorreu as capelas e ouviu críticas de alguns dos presentes pela falta de segurança na escola. Os secretários de Assistência Social, Rodrigo Bethlem, e de Conservação, Carlos Osório, também estiveram presentes. Paes afirmou que se reunirá com seu secretariado para definir as estratégia de ajuda às famílias e alunos da escola. Durante as cerimônias, um helicóptero da Polícia Civil sobrevoou o local e jogou pétalas de flores sobre as pessoas

O cenário também foi de dor e tristeza no Cemitério Murundu, em Realengo. Oito médicos precisaram ser chamados às pressas e duas ambulâncias estão no local. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, esteve no cemitério durante 15 minutos e abraçou os pais das crianças. Mais de 200 pessoas estiveram presentes ao cemitério onde foram sepultadas Bianca Rocha Tavares, Géssica Guedes Pereira, Laryssa Silva Martins e Mariana Rocha de Souza.

Psicopata mata 12 estudantes em colégio municipal

Manhã de 7 de abril de 2011. São 8h20 de mais um dia que parecia tranquilo na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste. Mas o psicopata que bate à porta da sala 4 do segundo andar está prestes a mudar a rotina de estudantes e professores, que festejam os 40 anos do colégio. Wellington Menezes de Oliveira, um ex-aluno de 24 anos, entra dizendo que vai dar palestra. Coloca a bolsa em cima da mesa da professora, saca dois revólveres e dá início a um massacre em escola sem precedentes na História do Brasil. Nos minutos seguintes, a atrocidade deixa 12 adolescentes mortos e 12 feridos.

Transtornado, o assassino atacou alunos de duas turmas do 8º ano (1.801 e 1.802), antiga 7ª série. As cenas de terror só terminam com a chegada de três policiais militares. No momento em que remuniciava dois revólveres pela terceira vez, o assassino é surpreendido por um sargento antes de chegar ao terceiro andar da escola. O tiro de fuzil na barriga obriga Wellington a parar. No fim da subida, ele pega uma de suas armas e atira contra a própria cabeça.

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Na escola, a situação é de caos. Enquanto crianças correm — algumas se arrastam, feridas —, moradores chegam para prestar socorro. PMs vasculham o prédio, pois havia a informação da presença de outro atirador. São mais cinco minutos de pânico e apreensão. Em seguida, começa o desespero e o horror das famílias.

A notícia se alastra pelo bairro. Parentes correm para a escola em busca de notícias. O motorista de uma Kombi para em solidariedade. Ele parte rumo ao Hospital Albert Schweitzer, no mesmo bairro, com seis crianças na caçamba, quase todas com tiros na cabeça ou tórax.

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Wellington, que arrasou com a vida de tantas famílias, era solitário. Segundo parentes, jamais teve amigos e passava os dias na Internet ou lendo livros sobre religião. Naquela mesma escola, entre 1999 e 2002, período em que lá estudou, foi alvo de ‘brincadeiras’ humilhantes de colegas, que chegaram a jogá-lo na lata de lixo do pátio.

Pai adotivo de Rafael Pereira da Silva se desespera durante enterro no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia

A carta encontrada dentro da bolsa do assassino tenta explicar o inexplicável. Fala em pureza, mostra uma incrível raiva das mulheres — dez dos 12 mortos — e pede para ser enrolado num lençol branco que levou para o prédio do massacre. O menino que não falava com ninguém deixou seu recado marcado com sangue de inocentes estudantes de Realengo.

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