quarta-feira, 6 de abril de 2011

Artista chinês está desaparecido após ser impedido de deixar o país

04/04 às 12h12 O Globo; com agências internacionais

Ai Weiwei desapareceu após ser abordado por policiais no aeroporto de Pequim./AFP - foto de arquivo

PEQUIM - Ai Weiwei, um dos mais famosos artistas contemporâneos da China, continua desaparecido nesta segunda-feira, mais de um dia após ele ter sido impedido de deixar o país e de a polícia ter invadido sua casa, informou sua mulher. Weiwei colaborou na elaboração do desenho do estádio Ninho do Pássaro, erguido para os Jogos Olímpicos de Pequim.

O desaparecimento do artista acontece num momento em que a China realiza um ofensiva contra advogados, escritores e ativistas, detendo e prendendo dezenas desde que foram iniciadas em fevereiro mobilizações pela internet para protestos, similares àqueles ocorridos no Oriente Médio e no Norte da África.

Declarado crítico do governo, Weiwei estava mantendo um registro informal dessas detenções no Twitter, onde possui mais de 70 mil seguidores, frequentemente expressando seu repúdio contra injustiças. Ele já tinha sido impedido de sair do país pelo menos uma vez e foi detido quando se preparava para embarcar para Hong Kong, no domingo. Mais tarde, no mesmo dia, a polícia invadiu sua casa e seu estúdio em Pequim.

- Não há notícias dele até agora - disse sua mulher, Lu Qing.

Ela contou que foi interrogada pela polícia na noite de domingo e que policiais levaram alguns itens da sua casa, como documentos, computadores e discos rígidos.

- Eles me perguntaram sobre o trabalho de Ai Weiwei e sobre os artigos que ele posta na internet - contou Lu. - Eu disse a eles que tudo que Ai fez foi público, e que se eles queriam saber sobre sua opinião e seu trabalho, eles poderiam simplesmente olhar na internet.

A mulher de Weiwei contou ainda que um grupo de funcionários do estúdio, que haviam sido presos durante a busca da polícia, foram liberados. Ela disse que a polícia não deu pistas para onde seu marido seria levado, por que estava sendo preso, ou por quanto tempo ficaria detido. Lu afirmou que a mãe de Weiwei, de 80 anos de idade, estava muito preocupada com o destino de seu filho.

Perguntas sobre a situação de Weiwei enviadas por fax à polícia nesta segunda-feira não foram respondidas. Pela lei chinesa, a polícia deve notificar familiares quando detém um suspeito por mais de 24 horas, embora as autoridades quase sempre ignorem essa ordem em situações politicamente importantes, o que parece ser o caso.

Ai Weiwei é filho de um dos mais famosos poetas modernos da China, o que levou muitos a acreditar que ele não seria preso ou sofreria um ataque. Ele foi declarado embaixador da cultura pelo governo comunista chinês antes de sua militância por ativistas sociais fazer dele um alvo das autoridades chinesas. Weiwei é talvez o artista chinês mais conhecido internacionalmente e expôs suas obras recentemente na galeria Tate Modern, em Londres.

Um de seus assistentes, que não quis se identificar, disse que não recebe notícias de Weiwei desde que ele saiu escoltado por dois policiais enquanto passava pela alfândega no aeroporto internacional de Pequim, no começo de domingo. Não está claro se o artista foi impedido de sair ou quem está o detendo.

Em dezembro, artista foi impedido de viajar para representar Nobel da Paz

Em dezembro, ele foi impedido de embarcar em um voo para Seul, logo após de ser convidado para a cerimônia de entrega do Nobel da Paz, na Noruega, representando o dissidente chinês Liu Xiaobo. Xiaobo foi acusado de subversão pelo governo e está cumprindo pena de 11 anos de prisão .

Na época, Weiwei disse que a polícia o abordou no portão de embarque e mostrou a ele um bilhete escrito à mão que dizia que ele poderia causar danos à segurança nacional caso partisse.

Conhecido por sua barba desgrenhada e seu corpo atarracado, Ai Weiwei foi consultor do futurístico estádio de futebol Ninho do Pássaro, construído para as Olimpíadas de 2008. Mais tarde, foi detido e espancado ao tentar assistir a um julgamento pelas vítimas do terremoto devastador na cidade de Chengdu, no sudoeste do país.

Alison Klayman, um cineasta americano que trabalhou em um documentário sobre Weiwei por mais de dois anos, disse que a polícia foi ao estúdio do artista três vezes na semana passada, checar identificação e passaportes de assistentes chineses e estrangeiros que trabalham lá e de alguns estudantes de arquitetura europeus que estão visitando o estúdio.


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