Los Angeles finalmente se descortinou à frente da camionete em que seguiamos de carona entre repolhos e restos de verdura para porcos. El Tigre, mi perrô platino e maconheiro repousava sua cabeça em minha barriga. Levantei a aba do chapéu e divisei a nuvem de poluição sobre a cidade. Um besouro psicodélico me contou que Martin Young-Clows, meu agente chegaria naquela noite de Chicago e estaria em um clube chamado COZY's - o melhor clube de BLUES da cidade dos anjos (e de muitas diabinhas e diabruras). Pra quem não sabe, fui sacaeado por um agente lítero-musical filho defecado por uma puta escrota. Fui jogado de costa-a-costa nos EUA atrás dos meus round trip tickets. As passagens aéreas da star alliace (leia ístar álái ânce) que me levariam para as 'melhores' quebradas ao redor do mundo como repórter bluseiro. Pois, pois. Depois de quase um ano de agruras e aventuras, incluídas duas prisões, furacões nas Caraíbas e no Golfo do México, o emocionante encontro com El Tigre em Ochorios na Jamaica, barcos imundos, veleiros sossobrados, naufrágio na costa texana, e desintoxicação alcoólica em um navio sueco, finalmente iria pegar o safado. E, à sorrelfa. Olhei o prospecto amarrotado pelos dois dias de viagem sem el soño de los justos.
No mapa da lista telefônica pendurada em um orelhão achei o local. Estava a 19 quadras do lugar, o que não era nada tratando-se de Los Angeles. Agradeci a Deus em reverencial silêncio e beijei a medalha que carrego junto ao crucifixo pendurado no peito. Senti um calafrio e aprumei as golas da maltratada jaqueta. No inverno as noites são frias até no inferno, especialmente quando se está esfomeado, sem dormir e vagando por ruas encagaçantes de uma violenta cidade do Hemisfério Norte. A jam session daquela noite de dezembro estava por conta de Alex Nester & Band. (Ouça Abaixo)
Fiquei à espreita na Ventura Boulevard. Enquanto o biltre não chegava acendi uma bituca caída no chão, marcada pela indelével baba azul de algum junkie. Não, não era batom das vagabundas, medusas abundantes que naquela região perambulam atrás do ganha-pau, digo, ganha-pão. EL Tigre acendeu seu enésimo baseado daquele dia. Os olhos do cão danado eram bolas de fogo e suas órbitas rubiáceas, espirais de indisfarçável piração. Já passava das duas da madrugada quando um Dodge Avenger preto-azulado encosta numa das laterais. Dele, vejo descer primeiro uma estonteante loira, chinchada em um justíssimo vestido de festa ornado por complementos brilhantes. Os lábios vermelhos se destacam na escuridão. Deles pende uma piteira demodê. A seguir, desce minha presa. O canalha é o típico complexado: nanico, equilibrando toneladas de suas safardagens em uma bota de cowboy com tacão de quase 18 centímetros. Tentava compensar a falta de estatura física e moral com o ridículo pisante, imitando pele de cobra. Apaguei calmamente meu cigarro, olhei para El Tigre. El perro louquíssimo pareceu sequer me enxergar ou a seu próprio focinho. Saí da sombra do plátano aonde aguardava o escroque e lentamente atravessei o pátio de estacionamento... (segue no próximo capítulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário