domingo, 22 de janeiro de 2012

Mais um roteiro bacana para curtir em São Paulo - Passeio literário no Centro de SP resgata história de escritores


22/01/2012 07h15 - Atualizado em 22/01/2012 07h15


Projeto gratuito deve começar no final de janeiro.
Tour passa pelo Teatro Municipal e por prédio onde Monteiro Lobato morreu.

Do G1 SP
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Busto de Álvares de Azevedo em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Foto: Clara Velasco/G1)Busto de Álvares de Azevedo em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Foto: Clara Velasco/G1)
“Um país se faz com homens e livros”, disse Monteiro Lobato. E é com o propósito de levar livros às pessoas e de despertar a curiosidade pela história de São Paulo que um projeto idealizou um passeio literário no Centro da capital. Organizado pelo Instituto Mobilidade Verde e pela Bicicloteca, uma bicicleta que empresta livros principalmente para moradores de rua da cidade, o tour passa por pontos emblemáticos como o Theatro Municipal, para relembrar a Semana de Arte Moderna de 1922, mas também por prédios onde escritores como o próprio Monteiro Lobato e Oswald de Andrade moraram e se reuniram com outros intelectuais da época.
Segundo Lincoln Paiva, presidente do instituto, o objetivo do passeio é fazer com que as pessoas leiam mais. O projeto pretende despertar também um interesse maior pelo Centro, já que a maioria das pessoas passa pelos prédios da região sem perceber que aqueles locais são históricos. “Agora estamos procurando financiamento, pois queremos que um historiador acompanhe sempre o passeio e seja remunerado por isso”, diz. Apesar de ainda ser apenas um projeto, Paiva espera que o tour literário saia do papel a partir do dia 25 de janeiro.
Os passeios vão ser gratuitos e aos sábados. Terão a duração aproximada de duas horas e serão feitos a pé na região central da cidade. Atualmente o tour conta com nove paradas, mas pode sofrer modificações ou mesmo alterações durante cada passeio. As pessoas interessadas devem entrar em contato com os organizadores pelo site da Bicicloteca.
G1 fez o passeio literário com o grupo responsável pelo projeto e com o guia de turismo Laércio de Carvalho. Veja abaixo os pontos visitados.
Passeio literário (Foto: Editoria de Arte/G1)

Prédio onde funcionou editora de Monteiro Lobato (Foto: Clara Velasco)Prédio onde funcionou editora de Monteiro Lobato
(Foto: Clara Velasco)
Parada 1 – Em um prédio na esquina da Rua Benjamin Constant com a Praça da Sé, o escritor Monteiro Lobato sediou durante um ano a sua editora, inicialmente chamada de Monteiro Lobato & Cia.
O autor da coleção “Sítio do Picapau Amarelo” e criador do personagem “Jeca Tatu” não se preocupava apenas em escrever, mas também em levar livros e ideias para as pessoas.
No prédio da década de 20, Monteiro Lobato ficou de 1924 a 1925 com sua editora. Em 1925, porém, ele foi forçado a declarar falência.
A época foi de dificuldades por causa da grande seca que atingiu o estado de São Paulo no período, forçando um racionamento elétrico.
Edifício em terreno em que Álvaro de Azevedo morou (Foto: Clara Velasco/G1)Edifício em terreno em que Álvares de Azevedo
morou (Foto: Clara Velasco/G1)
Parada 2 – Um pouco mais adiante, na Rua Benjamin Constant, na altura do número 122, fica o Edifício Álvares de Azevedo, que presta uma homenagem ao escritor ultra-romântico paulistano.
O poeta, que nasceu em 12 de setembro de 1831 e morreu em 25 de abril de 1852, vivia em uma casa no local onde atualmente fica o edifício. Ele foi aluno da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), mas morreu muito jovem, antes de concluir o curso. Devido à morte prematura, todos os trabalhos de Álvares de Azevedo foram publicados postumamente, como “Lira dos Vinte Anos”.
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (Foto: Clara Velasco/G1)Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (Foto:
Clara Velasco/G1)
Parada 3 – Ainda na Rua Benjamin Constant, na altura do número 158, fica o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Em sua lista de membros já constaram nomes de muitos escritores, como Hernâni Donato. A instituição foi fundada em 1894 com o objetivo de fazer um intercâmbio cultural e de divulgar a história e a geografia, principalmente da cidade de São Paulo.
Foi no instituto que Euclides da Cunha falou pela primeira vez sobre os sertões baianos durante uma palestra em 1898. Ele trabalhava já na sua obra mais conhecida, “Os Sertões”.
O instituto também é sede de uma biblioteca especializada na Revolução Constitucionalista de 1932, também conhecida como Guerra Paulista.
Vários escritores passaram pela Faculdade de Direito (Foto: Clara Velasco/G1)Vários escritores passaram pela Faculdade de
Direito (Foto: Clara Velasco/G1)
Parada 4 - A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que fica no Largo São Francisco, é considerada um celeiro da vida intelectual de São Paulo e de seus principais poetas e escritores. Desde o início de suas aulas, em 1º de março de 1828, nomes como Álvares de Azevedo, Oswald de Andrade, Monteiro Lobato e mesmo José de Alencar e Castro Alves, de fora de São Paulo, já passaram pela faculdade. A maioria dos escritores não chegou a completar o curso de direito, pois enfrentou morte prematura.
Em frente ao prédio da faculdade está o primeiro busto feito a um brasileiro na cidade de São Paulo, do escritor Álvares de Azevedo, inaugurado em 1907. Inicialmente, ele ficava na Praça da República, mas foi levado ao local por apelo dos estudantes.
Oswald de Andrade manteve ponto de encontro na Líbero Badaró (Foto: Clara Velasco/G1)Oswald de Andrade manteve ponto de encontro na
Líbero Badaró (Foto: Clara Velasco/G1)
Parada 5 – No 3º andar do prédio no número 67 da Rua Líbero Badaró, o escritor Oswald de Andrade sediou uma “garçoniere” no final da década de 1910. O local funcionava como um ponto de encontro de jovens escritores, muito cortejado pela alta sociedade da época. Guilherme de Almeida e Monteiro Lobato costumavam frequentar o estúdio, bem como outros precursores da Semana de Arte Moderna de 1922.
Como a numeração da rua foi alterada ao longo dos anos, historiadores acreditam que o local mais provável de ter sediado a “garçoniere” é no atual número 89 da via, perto da esquina com a Rua José Bonifácio.
Hotel no centro era frequentado pela elite intelectual (Foto: Clara Velasco/G1)Hotel no centro era frequentado pela elite intelectual
(Foto: Clara Velasco/G1)
Parada 6 - Onde atualmente funcionam escritórios da Indústria Votorantim, havia em meados do século 20 um hotel muito conhecido e frequentado pela elite intelectual paulistana: o Esplanada. Construído pelos arquitetos do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, o estabelecimento era palco de grandes bailes de carnaval, festas de formatura da Faculdade de Direito e outros encontros.
Um dos mais famosos frequentadores foi Oswald de Andrade, cuja família era muito rica. O poeta costumava ir tantas vezes ao hotel que chegou a fazer um poema em homenagem ao local, chamado “Balada do Esplanada”. "Ontem à noite/ Eu procurei/ Ver se aprendia/ Como é que se fazia/ Uma balada/ Antes de ir/ Pro meu hotel. É que este/ Coração/ Já se cansou/ De viver só/ E quer então/ Morar contigo/ No Esplanada".
O Theatro Municipal sediou a Semana de Arte Moderna (Foto: Clara Velasco/G1)O Teatro Municipal sediou a Semana de Arte
Moderna (Foto: Clara Velasco/G1)
Parada 7 - O Teatro Municipal de São Paulo, na Praça Ramos de Azevedo, foi palco da Semana de Arte Moderna de 1922, considerado o marco inicial do Modernismo no país.
Há 90 anos, Mário de Andrade e Oswald de Andrade lideraram o movimento, que apresentava uma nova proposta de literatura brasileira. O evento aconteceu de 11 a 18 de fevereiro e teve a participação também do maestro Heitor Villa-Lobos.
Ponto Chic, no centro, era local de encontro de escritores (Foto: Clara Velasco/G1)Ponto Chic, no centro, era local de encontro de
escritores (Foto: Clara Velasco/G1)
Parada 8 - O Largo do Paissandu era considerado um dos principais cenários boêmios de São Paulo nas décadas de 20 e 30, quando jovens escritores se reuniam para festas e encontros. O Ponto Chic, restaurante em que o sanduíche Bauru foi inventado em 1937, era um dos principais locais de encontro da juventude. Monteiro Lobato e Mário de Andrade era constantes frequentadores.
Em uma poesia, Mário de Andrade disse que gostaria, quando morresse, que seu sexo fosse enterrado no Largo do Paissandu, que era o foco da vida sexual nesta época.
"Quando eu morrer quero ficar,/ Não contem aos meus inimigos,/ Sepultado em minha cidade, Saudade./ Meus pés enterrem na rua Aurora,/ No Paissandu deixem meu sexo,/ Na Lopes Chaves a cabeça/ Esqueçam".
Prédio onde Monteiro Lobato morreu (Foto: Clara Velasco/G1)Prédio onde Monteiro Lobato morreu (Foto: Clara
Velasco/G1)
Parada 9 - O passeio termina novamente com um local importante na vida do escritor Monteiro Lobato. O último andar do prédio na Rua Barão de Itapetininga, número 93, foi o cenário de seus últimos dias de vida. Ao se encontrar quebrado e falido após uma viagem a Argentina, ele pediu auxílio ao seu amigo, Caio Prado Júnior, dono da Editora Brasiliense.
O prédio pertence à editora e, apesar de ser comercial, serviu de moradia a Monteiro Lobato. Em cartas, ele afirmava que ficaria pouco tempo no local, mas morreu no edifício em julho de 1948 com um espasmo cerebral.
O cortejo fúnebre do escritor, que nasceu em 1882, saiu da Biblioteca Mário de Andrade até o Cemitério da Consolação, mobilizando a sociedade paulistana na época.
Serviço:
Passeio Literário no Centro de São Paulo
Site: http://biciclotecas.wordpress.com/
Telefone: (11) 3042-4513

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