segunda-feira, 28 de março de 2011

Partículas Radiatiovas de Fukushima foram detectadas nos Açores.


segunda, 28 março 2011 | 18:11

CRISE NUCLEAR JAPÃO

por António Carneiro, RTPactualizado às 17:52 - 28 março '11

Água fortemente radioativa está a verter de Fukushima

publicado17:3428 março '11
Água fortemente radioativa está a verter de Fukushima
Pescadores no porto de Katsura, província de Chiba a sul de Fukushima. Os níveis de césio 137 vertidos no mar a partir da central nuclear ameaçam a indústria de pescas do JapãoEverett Kennedy Brown, EPA

Partículas provenientes da central nuclear de Fukushima foram já detetadas nos Açores, mas os especialistas afiançam que não constituem perigo para a saúde. Entretanto, no Japão, encontrou-se, pela primeira vez, água fortemente radioativa no exterior dos reatores. A fuga, detetada num dos túneis de manutenção que conduzem ao reator dois, fez disparar os níveis de radiação e receia-se que venha a contaminar o ambiente.

Uma das extremidades do túnel onde se detetou a fuga termina a cerca de cinquenta metros do mar. No entanto, a companhia Tepco, que opera a central, diz que não encontrou indícios de que a água radioativa tenha chegado à orla marítima.

O Governo japonês tinha dito antes que a prioridade era impedir a todo o custo que água contaminada seja absorvida pelo solo ou chegue ao oceano. Até agora, só tinham sido localizadas poças de água radioativa dentro dos edifícios dos reatores.

Plutónio detetado no soloNo entanto as más notícias não se ficam por aqui. Horas depois de ter sido detetada a fuga de água, a Tepco revelou ter detetado plutónio no solo em pelo menos cinco lugares da central danificada.

A água encontrada no túnel do reator dois é a mais fortemente radioativa que foi encontrada até agora. Os níveis de radiação medidos foram de 1.000 milisieverts por hora, uma dose suficiente para causar temporariamente doença por radiação.

Responsáveis da Tepco tinham ontem dito que os níveis de radiação no reator dois eram dez milhões de vezes superiores ao normal, antes de virem a público corrigir este valor para 100.000 vezes superiores ao normal.

“Absolutamente inaceitável” diz o GovernoUm erro grosseiro na medição da radioatividade que levou as autoridades a criticarem a companhia: “Considerando que a medição dos níveis de radioatividade é uma das principais condições para se poder garantir a segurança, este tipo de enganos é absolutamente inaceitável”, disse o primeiro-secretário do Governo, Yukio Edano.

A Tepco pediu desculpas, mas o erro de leitura na central de Fukushima Daiichi nº1 voltou a pôr na ordem do dia a forma como a companhia tem vindo a lidar com a crise nuclear. A empresa tem sido acusada de falta de transparência e de cometer lapsos em série, incluindo no vestuário de proteção utilizado pelos trabalhadores.

Na semana passada, dois trabalhadores da central tiveram de ser hospitalizados depois de terem estado a trabalhar na água contaminada quando levavam proteção inadequada, (consta que apenas usavam botas de borracha).

Partículas de Fukushima detetadas nos Açores
Entretanto soube-se hoje que partículas de gás 'Xenon 133', provenientes da central nuclear japonesa, já foram detetadas nos Açores.

A revelação foi feita pelo investigador universitário Félix Rodrigues, que considera que os "vestígios mínimos" encontrados não causam perigo para a saúde e desfazem-se em meia dúzia de dias".

"Pelo estudo de modelação efetuado à coluna de ar da atmosfera, idêntico ao realizado pela maioria dos países, podemos concluir que a maioria das partículas atinge particularmente os EUA e o Canadá, estando os Açores numa situação razoável", acrescentou este especialista da Universidade dos Açores.

Mais perigosos são o 'Césio 137' e o 'Estrôncio 90', que se "depositam no solo e cuja radioatividade só se reduz a metade passados trinta anos", disse Félix Rodrigues frisando, no entanto, que "a modelação efetuada a uma altitude de 2.500 metros indica que está a chegar (o Césio 137) em pequenas quantidades e não aponta para que venha a descer para o solo".

De acordo com o investigador, o transporte das matérias radioativas faz-se sobretudo através das correntes de jato (jet stream) na estratosfera, movendo as massas de ar em altitude de oeste para leste.

Félix Rodrigues adiantou que, "quando se analisam os dados a uma altitude de 5.000 metros percebemos que, neste momento, esses elementos estão a atingir a Península Ibérica e, de uma forma geral, a Europa".


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