quarta-feira, 9 de março de 2011

Birita entupida até os beiços? A Revista Galileu diz mais: Ressaca faz bem à Saúde!!!


Ressaca faz bem à saúde

Ela não é uma doença, mas derruba a pessoa por horas, às vezes um dia inteiro. Ainda assim, quem gosta de beber deveria saber apreciar este momento, porque ele oferece uma oportunidade de recomeço

por por Inigo Thomas

Nik Neves

A cabeça dói, qualquer barulho irrita, a sede é intensa, não dá vontade de comer. Difícil pensar numa pessoa adulta que nunca tenha tido ressaca uma vez na vida. O mal-estar generalizado que o excesso de bebida causa depois de uma noite de sono (geralmente ruim) não é exatamente resultado de uma doença, mas se parece bastante com isso. Para quem consome bebida alcoólica e exagera de vez em quando, ela é aquele momento em que se promete nunca mais repetir o erro — uma promessa tão sincera quanto as que fazemos nas viradas de ano. O que pouca gente se lembra é que a ressaca tem suas vantagens.

Em primeiro lugar, ela indica que a dose foi exagerada. Se não ficássemos mal, lidaríamos com o álcool como uma pessoa incapaz de sentir dor: sem nenhuma forma de saber quando passamos do ponto. Além disso, o momento de desconforto nos proporciona, de forma bastante concreta, uma lição que todos sabemos, mas insistimos em não nos lembrar. Toda fonte de satisfação, como o álcool (isso para quem gosta de consumi-lo, claro), traz consequências se perdermos a noção dos limites que nosso corpo é capaz de suportar.

Mas existe uma outra utilidade na ressaca. Muitas vezes ela é boa — isso mesmo. E, com mais frequência do que parece à primeira vista, as pessoas podem beber buscando exatamente o mal-estar do dia seguinte. Deve ser por isso que os escoceses dizem que sua verdadeira bebida típica não é o uísque, mas sim o Irn Bru, o remédio mais popular para curar ressaca no país. O motivo para procurarmos o mal-estar, de forma até proposital, é fácil de explicar. Em momentos de grande perda, seja a morte de uma pessoa querida, o fim de um relacionamento ou uma demissão, buscamos, de alguma forma, transformar o mal-estar psicológico em físico. Assim, conseguimos experimentá-lo em toda a sua intensidade. Ir ao fundo do poço. Quando a ressaca se vai, é como se ela levasse consigo ao menos parte daquele grande desconforto emocional que experimentamos junto com a dor de cabeça e o enjoo. Nem sempre funciona, mas é uma tentativa válida. Mais do que isso, é uma forma simbólica de buscar uma espécie de ressurreição curta.

>> Que bebida causa a pior ressaca?

Veja bem, não estou defendendo o alcoolismo, uma doença grave, que destrói famílias e mata de várias formas — em especial quando a pessoa comete a irresponsabilidade de dirigir. Tampouco acho que beber soluciona o problema ou a tragédia que trouxe grande infelicidade. Estou apenas apresentando uma hipótese para os motivos de tanta gente beber tanto, desde que o ser humano existe, mesmo sabendo o que o futuro próximo vai trazer como consequência (os americanos não fazem questão de lembrar, mas, ao longo do século 19, as decisões mais cruciais dos rumos do país foram tomadas por grupos de políticos bêbados. Ou de ressaca). O importante é: se você gosta de bebida e exagera de vez em quando, tente enxergar o dia seguinte sob uma nova perspectiva. Ele traz uma grande oportunidade de recuperação e, quem sabe, de um pequeno recomeço. Para isso, é preciso não se limitar ao remorso de ter bebido. É preciso aproveitar a sensação de lutar para se sentir melhor e ser bem-sucedido.

Inigo Thomas é jornalista e crítico cultural britânico que escreve para a London Review of Books e para o site de notícias Slate.com

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