Joel Dee, um dos vizinhos esquisitos do parque de trailers em que moramos as últimas quatro semanas com uma vagaba acelerou seu velho Malibu azul bebê pelas estepes texanas. Destino, Las Vegas. 15 quilos de haxixe acompanhavam a empreitada escondidos sob a lataria esburacada. Caraglio, Texas não tem estepes. Phlóda-se. Corríamos a 100 milhas por hora, coisa pra cacete. Algo como 175 km/h. O tiro que transpassara a banda esquerda de minhas nádegas cicatrizara. A cara gorda de Joel Dee concentrava bem no centro seus olhos vesgos, cobertos por indefectíveis óculos com lentes grossas como fundo de um garrafão esverdeado. No final da inacabável reta, a moldura avermelhada do sol do deserto debruçando-se sobre o horizonte em sua morte diária. Ojos arroxeados pela imensidão seca e empoeirada. Os óculos de Joel Dee refletiam as carcaças revolvidas por abutres tétricos. El Tigre, mi perro maconheiro e compañero de camiñada olhava com certo carinho aquela carga de banha inerte, peluda e suada. Só podia estar chapado e com larica.
Na encruzilhada para um pequeno ponto no mapa chamado Conquest, uma vigorosa freada nos tirou do estado letárgico. El Tigre olhou pra mim e eu para El Tigre. Uma trombada entre uma van e uma motocicleta havia pouco acontecera. Na van seguiam uma mulher grávida, duas melancias de uns 9 quilos e meio, `além de centenas de estudantes pós-adolescentes com suas saiazinhas plissadas e ar juvenil-sem-vergonha`. - Quieto, El Tigre, não viaja, porra! Exclamei para o teclado. Joes Dee mais bêbado que uma garrafa de steinhagger mirou sua fuça para o cabra esticado ao lado da moto. Retalhado pelos milhares de pedaços de vidro que agora adornavam sua face sem-vergonha, Inês é morta. Sim, só podia estar morto. Exangue, nenhum sangue saía. Olhei ao derredor desértico. El Perro and mi percebemos que a jovem senhorita iniciara o trabalho de parto. Ou a poça que se formara sob seu vestido era de xixi e ela pretendia inundar o planeta. Resolvemos fazer o parto da incauta que já se contorcia a espera de seu rebento. El Perro, estetoscópio em riste, determinou a incisão providencial. Respondi-lhe que não, o parto seria normal. - Nada de cesariana. Joel Dee esquentou um pouco de água em um velho fogareiro. O sol se fora e a noite brigava com o horizonte escarlate. A luz de um giroscópio aponta no infinito. - Iria levar ainda uns 12 minutos e 39 segundos para os homi chegarem, rosnou El Tigre, um tanto quanto matemático. Deitamos Allicia Carlston (leia aliCHIA cal-rïstom) na traseira de sua van. Joel Dee depositou a água quente em uma bacia imunda catada à beira do asfalto. – Respire fundo, dona. A moça aquiesceu. E começou a respiração cachorrinho, sôfrega, inquieta, agonizante. Parecia que iam nascer trigêmios, tamanho o esforço. O carro dos ratos se aproximava mais rápido que os cálculos de El Tigre. Chegariam em 9 minutos e 21 segundos, o que reduzia o tempo em que poderíamos ajudar a infeliz e ainda nos safarmos com o haxixe. - - Pronto, pronto, está saindo, digo nascendo. El Tigre, feliz, então apresenta uma enorme melancia à dona Allicia. Ela tem um repentino ataque puerperal e tenta destroçar seu rebento. – Queria que fosse um melãozinho. Repetia sem parar com seu inglês caipira. A sirene está bem próxima, nos despedimos apressados de Allicia e quando nos viramos para partir... tchan, tchan, tchan tchan ... o Malibu já ia longe levado por Joel Dee que nos abandonara a própria sorte, má-sorte. (To be continued)
Na encruzilhada para um pequeno ponto no mapa chamado Conquest, uma vigorosa freada nos tirou do estado letárgico. El Tigre olhou pra mim e eu para El Tigre. Uma trombada entre uma van e uma motocicleta havia pouco acontecera. Na van seguiam uma mulher grávida, duas melancias de uns 9 quilos e meio, `além de centenas de estudantes pós-adolescentes com suas saiazinhas plissadas e ar juvenil-sem-vergonha`. - Quieto, El Tigre, não viaja, porra! Exclamei para o teclado. Joes Dee mais bêbado que uma garrafa de steinhagger mirou sua fuça para o cabra esticado ao lado da moto. Retalhado pelos milhares de pedaços de vidro que agora adornavam sua face sem-vergonha, Inês é morta. Sim, só podia estar morto. Exangue, nenhum sangue saía. Olhei ao derredor desértico. El Perro and mi percebemos que a jovem senhorita iniciara o trabalho de parto. Ou a poça que se formara sob seu vestido era de xixi e ela pretendia inundar o planeta. Resolvemos fazer o parto da incauta que já se contorcia a espera de seu rebento. El Perro, estetoscópio em riste, determinou a incisão providencial. Respondi-lhe que não, o parto seria normal. - Nada de cesariana. Joel Dee esquentou um pouco de água em um velho fogareiro. O sol se fora e a noite brigava com o horizonte escarlate. A luz de um giroscópio aponta no infinito. - Iria levar ainda uns 12 minutos e 39 segundos para os homi chegarem, rosnou El Tigre, um tanto quanto matemático. Deitamos Allicia Carlston (leia aliCHIA cal-rïstom) na traseira de sua van. Joel Dee depositou a água quente em uma bacia imunda catada à beira do asfalto. – Respire fundo, dona. A moça aquiesceu. E começou a respiração cachorrinho, sôfrega, inquieta, agonizante. Parecia que iam nascer trigêmios, tamanho o esforço. O carro dos ratos se aproximava mais rápido que os cálculos de El Tigre. Chegariam em 9 minutos e 21 segundos, o que reduzia o tempo em que poderíamos ajudar a infeliz e ainda nos safarmos com o haxixe. - - Pronto, pronto, está saindo, digo nascendo. El Tigre, feliz, então apresenta uma enorme melancia à dona Allicia. Ela tem um repentino ataque puerperal e tenta destroçar seu rebento. – Queria que fosse um melãozinho. Repetia sem parar com seu inglês caipira. A sirene está bem próxima, nos despedimos apressados de Allicia e quando nos viramos para partir... tchan, tchan, tchan tchan ... o Malibu já ia longe levado por Joel Dee que nos abandonara a própria sorte, má-sorte. (To be continued)
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