domingo, 1 de novembro de 2009

Da Série: Sumas Dominicais Odarianas - O Monólogo Febril e o Diálogo das Urgências

Ele balbuciava monocórdio pelas esquinas ininteligíveis onomatopéias. Faziam sentido e davam conforto à sua alma abandonada pelos outros, transeuntes apressados que nada ouviam no turbilhão de sons que enfrentavam. Tudo sem mais se tocarem de que a tranqüilidade lírica d’antanho correra também apressada pelo rio aberto por seus passos céleres. O ônibus das dezoito e quarenta e cinco, uma hora e
meia de fila e trânsito complicados, colocar no fogo a sopinha instantânea enquanto larga a sandália pela cozinha, a blusa no corredor e estar pelada antes de alcançar o banheiro já sem calcinha. Um banho- de-gato escorrega da pele pelo ralo toques, cheiros, sons e imagens acumulados no dia. Pronto. Final do telejornal sanguinolento acompanhado pelo pão mergulhado de naco-em-naco na caneca da sopa. Vai começar a novela preferida. A cada intervalo vão as roupas para o tanque, a louça para a pia, o celular que serve de despertador na tomada da mesinha de cabeceira ao lado da Santa de sua predileção e, antes das dez e meia já está com cabelos e dentes escovados cumprindo a primeira hora do sono que a levará ao ônibus das seis e quinze da manhã seguinte, saltar próximo ao Mercado Público e passar aos milhares que agora novamente é, pelo homem que balbucia onomatopéias ininteligíveis na esquina. Fotos: LesPaul, Nokia VGA, Ladeira Porto Geral, SP 2006. Singela homenagem a Pedro de Lara

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