terça-feira, 24 de novembro de 2009

CRUZ e SOUSA completaria hoje 148 anos. Aqui por Desterro, nenhuma referência oficial sobre a data tem destaque

Comandada por ignaros, incultos e abomináveis vira-bostas excitados com metros e mais metros de asfalto vagabundo, obras que não duram uma chuva de verão, na Desterro hoje submetida a tentativas (algumas bizonhas) e erros (muitos e bizarros erros), CRUZ E SOUSA, maior poeta simbolista brasileiro e considerado por especialistas um rival à altura de Mallarmè, o maior de todos, os homens do Paço NÃO LHE RENDEM em sua terra as homenagens que merece. Era um beletrista phlódão e esquartejava com a riqueza de sua pena um mundo dominado pelo racismo e preconceito. Sua inteligência e seus belíssimos versos eram adaga afiada a cortar os salões da nobreza sifilítica e escravagista. Apenas uma mísera linha no .... esqueçam-no é o que dizia aquela única linha no tal diário...

CAVEIRA

I
Olhos que foram olhos, dois buracos
agora, fundos, no ondular da poeira...
Nem negros, nem azuis e nem opacos.
Caveira!

II
Nariz de linhas, correções audazes,
de expressão aquilina e feiticeira,
onde os olfatos virginais, falazes?!
Caveira! Caveira!!

III
Boca de dentes límpidos e finos,
de curva leve, original, ligeira,
que é feito dos teus risos cristalinos?!
Caveira! Caveira!! Caveira!!!

ACROBATA DA DOR

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta, clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos, retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço...

Último texto

Escárnio perfumado

Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,

Vendo tão fartas,
D'uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas - isso dói, me aflige...

E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,

Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme...

João da Cruz e Sousa, considerado o mestre do simbolismo brasileiro, nasceu em Desterro, hoje cidade de Florianópolis - SC, no dia 24 de novembro de 1861. Desde pequenino foi protegido pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa, que o acolheram como o filho que não conseguiram ter. O referido marechal havia alforriado os pais do escritor, negros escravos. Educado na melhor escola secundária da região, teve que abandonar os estudos e ir trabalhar, face ao falecimento de seus protetores. Vítima de perseguições raciais, foi duramente discriminado, inclusive quando foi proibido de assumir o cargo de promotor público em Laguna - SC. Em 1890 transferiu-se para o Rio de Janeiro, ocasião em que entrou em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Vivia de suas colaborações em jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de "Missal" e "Broquéis" (1893), só conseguiu se empregar na Estrada de Ferro Central do Brasil, no cargo de praticante de arquivista. Casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, em 09 de novembro de 1893. O poeta contraiu tuberculose e mudou-se para a cidade de Sítio - MG, a procura de bom clima para se tratar. Faleceu em 19 de março de 1898, aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão...

Livros publicados:

Poesia:

"Broquéis" (1893)
"Faróis" (1900)
"Últimos Sonetos" (1905)
"O livro Derradeiro" (1961).

Poemas em Prosa:

"Tropos e Fanfarras" (1885) - em conjunto com Virgílio Várzea
"Missal" (1893)
"Evocações" (1898)
"Outras Evocações" (1961)
"Dispersos" (1961)

VISITE, para MAIS DO MESMO: PROJETO RELEITURAS em http://www.releituras.com/cruzesousa_menu.asp

LEIA TAMBÉM em Poesia.net (ALGUMAPOESIA) em http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/cruz.sousa.jpg&imgrefurl=http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet222.htm&usg=__jWc3r5ztI6gBYGPHFtg8oWzMtE0=&h=251&w=185&sz=12&hl=pt-BR&start=6&um=1&itbs=1&tbnid=7xgZ1WsK3FZAkM:&tbnh=111&tbnw=82&prev=/images%3Fq%3Dcruz%2Be%2Bsousa%26hl%3Dpt-BR%26rlz%3D1C1CHMG_pt-BRBR291BR340%26sa%3DN%26um%3D1

Caros,

Ironias da História: um dos poetas mais geniais no Brasil escravista do século XIX é justamente um filho de escravos. Falo do catarinense João da Cruz e Sousa (1861-1898), fundador e maior expoente do simbolismo no Brasil. Nascido em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, João da Cruz era filho de Guilherme da Cruz, escravo e mestre-pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, ex-escrava...