As discussões sobre o tempo ganharam a ciência e os cientistas, e das mais variadas sendas do conhecimento humano opiniões dividiram o palco da 'intelectualidade mundial' nos momentos que antecediam o fim do 2º milênio. Porém, um dramaturgo e comediante (apesar de excepcional) trouxe uma nova luz ao prisma de pitacos diversos, uns mais outros menos pretensiosos. Ao ser perguntado sobre se 'vivíamos o fim dos tempos?' a inusitada resposta assentou-se sobre inusitada perspectiva. Disse Jean-Claude Carrière (roteirista de Étaix, Buñel, Oshima, Malle, Godard...),
"A primeira coisa que me vem ao espírito, e que é indiscutível é que assistimos ao fim de certos tempos gramaticais. Onde se meteu o futuro do pretérito [anterior, no original]? Que foi que houve com o presente perfeito [simples no original]? Só muito raramente usamos o imperfeito do subjuntivo...Que significa essa simplificação? Que são os tempos gramaticais senão uma tentativa minunciosa de nossos espíritos precisos, meticulosos, de considerar todas as formas possíveis, todas as relações mantemos com o tempo no interior mesmo de nossa ação, de nosso pensamento? O que é uma conjugação? UMA TENTATIVA DE PENSAR E DE DIZER TODA A DIVERSIDADE DAS SITUAÇÕES NO TEMPO. Claro, essa é uma tarefa impossível... Eu me abstenho de atribuir um sentido a esse desaparecimento dos tempos gramaticais...
Somos, parece, incapazes de perceber as nuances na música de Couperin, porque nosso ouvido se deteriorou; e sem dúvida não somente nesse ouvido. Talvez, em nossa relação com o tempo, se tenha perdido um certo sentimento e uma nova preguiça se tenha instalado."
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