Apropriações e apropriações de um legado
Por Celso Martins*
Um dia após o enterro de Amilton (Mosquito) Alexandre dois episódios ilustram que existem apropriações e apropriações, uma legítima, com respaldo na solidariedade, camaradagem e parceria, outra, com ares de ilegitimidade, tende a cair nos braços de interesses político-eleitorais.
A apropriação legítima está sendo operada com muita competência pelos jornalistas Sérgio Rubim (Canga) e Jerônimo Gomes Rubim, já faz algum tempo, através da ocupação do espaço que Mosquito deixou, ainda vivo, conforme podemos observar nos textos por ele deixados (Tijoladas do Mosquito continua no ar). Na real os Rubim continuam uma trajetória iniciada antes do surgimento do Tijoladas, com características próprias.
A outra iniciativa, que poderia assumir características de “desobediência civil” e, aí sim, resultar em medidas concretas e eficazes de moralização da coisa pública, nasce aparentemente tutelada. Estaria surgindo no cabresto de interesses outros, desassociados do que poderíamos chamar de “memórias mosquitianas” ou o jeito “mosquitiano” de se manifestar. Trata-se, aqui, caso a iniciativa tome o rumo apontado em manifesto**, de uma apropriação indébita, uma extorsão intelectual, um estupro politizado.
Felizmente, entre os que tomaram a iniciativa do ato desta sexta-feira (16.12, 17 horas, Catedral), existem cabeças iluminadas que podem conduzir a indignação resultante da morte de Mosquito – pela forma e nas circunstâncias em que aconteceu –, no caminho Político sim, mas com P maiúsculo, sem visar votos na próxima eleição. Caso este setor do movimento social de Florianópolis não consiga conduzir este sentimento pelo caminho sadio e desinteressado, teremos nada mais que um comitê de campanha em franca (e antecipada) atividade.
Nunca é demais lembrar: nos dias que antecederam a morte, Mosquito escreveu e telefonou para diversas pessoas pedindo emprego, estava precisando refazer a vida e precisava de um plus para dar o start. Aquele era o momento para os acólitos de hoje "exaltarem a memória" do blogueiro.
*Celso Martins é jornalista e historiador, editor do Portal de Notícias Daqui na Rede e dos blogs Sambaqui na Rede2 e Fragmentos do tempo2. Cobriu pelo jornal O Estado a Novembrada em 1979 em Florianópolis que resultou nas prisões de sete estudantes, entre eles Amilton Alexandre.
**O citado manifesto abre anunciando o mote: “Mandem me prender! Afirmo, como Mosquito afirmou: Dário é corrupto!” E anuncia um “Júri Popular” denominado “Tijolada por Justiça”, informando em seguida a data e local do ato.
MOSQUITO
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