sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Filha Zureta de Berlindo Lupércio e a Alma Doce do Caixeiro de Pau Grande

Muxiricó fica a duas centenas de quilometros de uma capital do sudeste brasileiro e mais uns três dias no lombo de burro do Vale das Cegonhas. O queijo parmesão é de lamber os beiços quando escorre da chapa do fogão à lenha pelas bordas do pão de milho. Essa região é coberta por uma mata imponente e coloridas flores que se revesam ao longo de quase todo o ano, escaceando no outono, época em que o doirado das folhas (obrigado Clarice Lispector) ilumina campos e vales sob a luz mais bela antes do solstício de inverno.

Nesse cenário idílico vivia Berlindo Lupércio. Marcado pelos rigores do tempo pretérito e das dores da faina campesina, não era um homem dado a sorrir. Não era tampouco mal-humorado. Apenas não se divisava um laivo de sorriso na cara vincada do caboclo. Dono de uma vastidão de terras herdadas desde tempos imemoriais, vivia em uma boa casa colonial. Simples, branca com janelas outrora azuis, avarandada e fresca no verão. Da chaminé evolavam círculos de fumaça de lenha fresca 400 dias ano inteiro. Ao lado do fogão descansava pendurada a garrucha sempre azeitada e pronta pra espantar algum chupa-cabra desavisado que invadisse suas lindes.
Com Lupércio viviam sua mulher Valquíria Tolentina e quatro filhas. Suportava a mulher que não lhe dera um filho macho e, quando não gastava o tesão com alguma vadia no lupanar de Sorocaba da Cotovia, esvaziava os ovos na obsequiosa Tolentina, uma mulher madura e ainda bem aprumada, de carnes rijas. Silenciosa, mas não submissa. Ela até gostava de ser barranqueada pelo 'velho' de quando em quando, mas se realizava sozinha, na banheira de ferro cheia de água quente, único tempo que se concedia e imaginava Valdonor, o Valdinho, caixeiro que atravessava aquela imensidão de campos, vales e capões remotos com um pouco de tudo. De bolachas a pregos de aço, de biotônicos fortificantes a tecidos sedosos que dizia vir de um Oriente distante. (To Be Continued - Quando a Alma Doce do Caixeiro de Pau Grande finalmente chega ao Céu Azul Marinho)

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