- O guitarrista inglês Jeff Beck
A jornada de Jeff Beck de ícone da música a tema de piada no prêmio Grammy foi longa e cheia de voltas –e, segundo ele, continua sendo recompensadora.
Foi o humorista de TV Stephen Colbert que, em janeiro, colocou o guitarrista britânico em perspectiva enquanto apresentava o prêmio Grammy em Los Angeles. Durante seu monólogo de abertura, Colbert brincou que queria apresentar à sua filha adolescente alguns dos músicos lendários presentes.
“Querida, você conhece o Jeff Beck?” perguntou Colbert.
Ela indicou que não.
“Você conhece o jogo Guitar Hero?” disse Colbert. “Ele tem o placar recorde de todos os tempos –sem nunca tê-lo jogado.”
Beck, sentado no auditório e usando óculos escuros, simplesmente riu.
Ele é de fato o herói da guitarra quintessencial, de músico de estúdio nos anos 60, passando pela sua participação na banda Yardbirds, até uma carreira solo que passou por hard rock, jazz fusion e interpretações clássicas, tudo isso com um estilo de tocar inventivo, focado, que é tanto feroz quanto emotivo. Classificado no 14º lugar na lista dos maiores guitarristas do rock pela revista “Rolling Stone”, ele ingressou no Salão da Fama do Rock and Roll em 2009 e de lá para cá só tem somado ao seu legado, conquistando um Grammy em 2010 de melhor performance de rock instrumental e fazendo turnê com seu amigo e ocasional rival, o guitarrista Eric Clapton.
“Eu experimento de tudo”, ele diz, falando por telefone de Nova York, antes de uma apresentação no Madison Square Garden com Clapton. “Eu sempre achei que tinha de demolir prédios –eu sempre achei que era o que as pessoas gostavam e, quando você é jovem e agressivo, você quer demolir prédios. As coisas são diferentes agora. Quando tocamos algo em uma manhã fria de segunda-feira, se soar bem, então fica. Mas, se não soar, vai para a lixeira.” Beck também lançou um dos álbuns mais ambiciosos de sua carreira, o novo “Emotion & Commotion”, no qual não apenas apresenta riffs de rock, mas também explora os mundos da ópera e standards com “Nessun Dorma” de Puccini e “Over the Rainbow” de Arlen & Harburg, respectivamente. Aos 65 anos e com quase 45 anos de carreira, Beck diz que não sente qualquer restrição criativa.
“É esse grande desconhecido que mantém tudo tão empolgante.”
“Emotion & Commotion”, um álbum que Beck considera “um tremendo de um risco”, abraça esse grande desconhecido. Seu primeiro álbum de estúdio em sete anos, ele conta com arranjos orquestrais em nove de suas 10 faixas, com contribuições de Imelda May, Olivia Safe e Joss Stone nos vocais. Além de “Nessun Dorma” e “Over the Rainbow”, ele também toca a tradicional “Corpus Christi Carol” e “Elegy for Dunkirk”, do filme “Desejo e Reparação” (2007), enquanto “I Put a Spell On You” de Screamin’ Jay Hawkins e a original “Hammerhead” exploram o rock e blues nos quais Beck construiu sua reputação.
“Talvez eu perca alguns fãs, talvez eu ganhe alguns. Mas tudo o que posso dizer é que vi homens adultos, após ‘Nessun Dorma’ e ‘Corpus Christi Carol’ com a orquestra, saírem do ar. Dava para ver pelos olhos deles, eles não estavam lá. Parece funcionar em um nível emocional. Eu estou bastante satisfeito com a forma como está rolando.”
Rock é o melhor brinquedo
Na adolescência, ele aprendeu a ver a música como uma fuga de sua vida prosaica na operária Wallington, Inglaterra –“Era um tipo de fuga de um emprego propriamente dito, eu acho”, diz rindo o ex-menino de coral de igreja– mas sua vida mudou quando sua irmã mais velha começou a trazer para casa discos de Elvis Presley. O rock and roll entrou em seu sangue.
Na adolescência, ele aprendeu a ver a música como uma fuga de sua vida prosaica na operária Wallington, Inglaterra –“Era um tipo de fuga de um emprego propriamente dito, eu acho”, diz rindo o ex-menino de coral de igreja– mas sua vida mudou quando sua irmã mais velha começou a trazer para casa discos de Elvis Presley. O rock and roll entrou em seu sangue.
“É o melhor brinquedo de todos, e então ele deixa de ser um brinquedo e se transforma em uma obsessão. E então mais discos chegam e mais influências chegam, e foi assim que minha carreira começou, sério. Meu estilo de tocar nasceu ouvindo os discos –nos anos 50 com Elvis, Gene Vincent, Little Richard, tudo o que estava nas paradas nos Estados Unidos nós tentávamos nos apossar.”
“Eu sempre fui fascinado pelo som dos solos naqueles discos, a natureza dos tipos diferentes de sons. Por exemplo, Buddy Holly era diferente de Scotty Moore. Scotty era diferente de James Burton. James Burton era diferente de Cliff Gallup, e assim por diante. Era simplesmente uma temporada aberta de quem lhe agradasse na época.”
“E Les Paul... muito daquilo me influenciava, porque era coisa puramente instrumental.”
Ressentimento com o Yardbirds
Beck aprendeu a tocar em um violão emprestado e depois fez seu próprio, usando caixas de charuto como corpo, estacas de cerca em estado bruto como corpo e fios do painel de controle de aviões como cordas. Ele logo passou aos instrumentos genuínos e, enquanto estudava no Wimbledon College of Art, ele começou a trabalhar como músico de estúdio em Londres.
Beck aprendeu a tocar em um violão emprestado e depois fez seu próprio, usando caixas de charuto como corpo, estacas de cerca em estado bruto como corpo e fios do painel de controle de aviões como cordas. Ele logo passou aos instrumentos genuínos e, enquanto estudava no Wimbledon College of Art, ele começou a trabalhar como músico de estúdio em Londres.
a projeção ocorreu em 1965, quando foi contratado para substituir Clapton nos Yardbirds, por recomendação do colega Jimmy Page, outro músico de estúdio que posteriormente integraria os Yardbirds e depois iniciaria o Led Zeppelin. A passagem de Beck coincidiu com os maiores sucessos do grupo –“Heart Full of Soul” (1965), “Shapes of Things” (1966) e “Over Under Sideways Down” (1966)– mas ele deixou a banda em 1966 se queixando e ainda hoje guarda um certo ressentimento.
“Eu acho que eles me trataram feito lixo. Eles me pagavam 20 libras por semana, apesar de dependerem de mim, assim como dependiam do Eric. Foi algo que eu percebi apenas depois que me chutaram. Eles não puderam esperar que eu me recuperasse de uma doença terrível, o que eu considerei realmente indecente, e eles descobriram que o Jimmy seguraria as pontas e então foram para a Austrália, e isso foi o fim daquilo.”
“Não foi algo bacana o que fizeram, de forma que guardei um pouco de ressentimento.”
Mas Beck seguiu em frente, recusando uma oferta para se juntar ao Pink Floyd, preferindo iniciar o primeiro Jeff Beck Group com o baixista Ron Wood e com um cantor jovem, relativamente desconhecido, chamado Rod Stewart.
“Eu adorava a voz do Rod, eu tenho que dizer. Ele ainda tem uma daquelas raras vozes roucas que todo mundo ama, aquele som negro que quase parece laringite –mas uma laringite boa– e eu queria seguir em frente com aquilo.”
O grupo gravou dois álbuns bem recebidos, emplacando sucessos como “Hi Ho Silver Lining” (1967), “Tallyman” (1967) e a instrumental “Beck’s Bolero” (1968), mas problemas de saúde interferiram de novo: depois que Beck fraturou o crânio em um acidente de carro em 1969, Stewart e Wood optaram por ingressar no Small Faces, posteriormente conhecido como Faces, em vez de esperar pela recuperação do guitarrista.
“Eu adoraria ter visto aquela formação seguir três ou quatro álbuns adiante”, diz Beck, que foi convidado para entrar nos Rolling Stones durante sua recuperação, mas optou por formar duas outras versões de sua própria banda.
Por volta dessa época Stevie Wonder compôs “Superstition” (1972) para Beck, cujo talento ele sempre admirou. Mas o empresário de Wonder e a Motown Records insistiram que Wonder a gravasse primeiro, dando a ele o single de sucesso em vez de Beck.
Última banda e renascimento
A última tentativa de Beck de fazer parte de uma banda ocorreu em 1973, quando se juntou aos ex-integrantes do Cactus, Tim Bogert e Carmine Appice, para formar o Beck, Bogert & Appice. O trio lançou um álbum de estúdio e um ao vivo, e Beck a considera como outra banda que escapou em sua carreira.
A última tentativa de Beck de fazer parte de uma banda ocorreu em 1973, quando se juntou aos ex-integrantes do Cactus, Tim Bogert e Carmine Appice, para formar o Beck, Bogert & Appice. O trio lançou um álbum de estúdio e um ao vivo, e Beck a considera como outra banda que escapou em sua carreira.
“Eu a considerava fantástica. Eles eram realmente raros, mas infelizmente não tinham o material para manter o barco à tona. A banda precisava de grandes canções. A qualidade instrumental estava lá e era um trio excelente. Era como o Cream, um pouco mais ousado, mas com menor qualidade nas canções, o que não era uma boa receita para continuar.”
“Além disso, havia uma gestão anglo-americana que estava destruindo o dinheiro. Um empresário não queria isso e o outro empresário não queria aquilo, realmente chegando a um beco sem saída financeiro.”
Esse fim, entretanto, foi o início do renascimento de Beck. Em meio aos rumores sobre entrar para os Rolling Stones nos anos 70, ele começou a trazer as influências do jazz-fusion à sua música, começando com “Blow by Blow” (1975) –produzido pelo famoso produtor dos Beatles, George Martin– e seguido por “Wired” (1976) e um álbum ao vivo de 1977 de uma turnê feita com o Jan Hammer Group como sua banda de apoio.
Desde então Beck tem mantido sob seu controle a direção criativa. Ele não foi exatamente prolífico, mas levou sua música em diversas direções, incluindo a trilha sonora de “Frankie’s House” (1992), um álbum de covers de Gene Vincent –no qual presta tributo ao guitarrista de Vincent, Cliff Gallup– chamado “Crazy Legs” (1993) e esforços experimentais como “Who Else!” (1999) e “You Had It Coming” (2001). Ele conquistou cinco Grammys ao longo do caminho, além de ter participado como convidado em álbuns de Jon Bon Jovi, Mick Jagger, Cyndi Lauper, Rod Stewart, Tina Turner, Roger Waters e muitos outros.
Mas nada neste retrospecto substancial e nem o enorme respeito que recebe de seus pares deixa Beck satisfeito, ou mesmo estagnado.
“Você pensa: ‘Uau, eu cheguei até aqui com isto. Por que não fazemos melhor?’. Eu meio que fechei meus olhos e ouvidos para o passado quando deixei o Yardbirds. Eu nunca quis ficar muito preso a algo, porque muitas vezes você ouve algo e vai querer mudar. É melhor deixar em paz algo que você sentiu que era daquela forma que soava melhor.”
Olhar adiante é ainda sua abordagem preferida.
“Se eu não ouço o que eu quero, este é o gabarito pelo qual meço se algo está bom ou adequado. Eu sei quando está errado e não estou realmente preso a quaisquer grilhões da música. Eu apenas sigo em frente. Eu realmente adoro isso. Às vezes sei o que está acontecendo por feeling, às vezes de ouvido.”
“Após todo esse tempo, eu preciso ter alguma confiança e fé nesses instintos.”
(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)
Um comentário:
Du Badaglio. Grande matéria. Lembra o Blow By Blow rodando 700 mil vezes sob a agulha da vitrola, Ingleses (a praia), Mediva, Tony, little waves, dunas, inocência, outonos e primaveras do então porvir que agora já passamos. Depois, mares insubordinados, rampas depois halfs cada vez mais altoas, até que um dia as rodinhas giram em frêmitos e zunidos de abelha nos trucks soltos no ar... o primeiro aéreo. Amanhã ou domingo estarei no Caminito, onde conheci el Perro Loco, onde tudo começou... Mandarei notícias e fotos. Quem sabe um flash.
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